Produtor
Medeia Filmes Lda
Breve Introdução
O ESTÁDIO DE WIMBLEDON / LE STADE DE WIMBLEDON
de Mathieu Amalric
com Jeanne Balibar, Peter Hudson, Ariella Regio, Anna Prucnal
França, 2001 - 70 min
legendada em português
cópia 35mm
A família cinematográfica de Amalric é das que mais tradições e mais peso tem no cinema francês - e seria relativamente fácil estabelecer, através dos seus dois filmes, uma genealogia que teria Jacques Rivette no lugar do avô e Jean-Claude Biette no lugar do pai, o que equivale ainda a uma série de tios e primos de respeito.
É claramente a essa família que pertence O Estádio de Wimbledon. Curioso é que os livros voltem a servir de motor, e que desta vez se trate mesmo de uma adaptação de um romance (o livro homónimo do italiano Daniele del Giudice) que tem por tema, justamente, livros e escritores. []
Daniele del Giudice era um engenheiro de 35 anos que decidiu escrever uma história sobre um candidato a escritor que partia em busca de um escritor que nunca escreveu nenhum livro. Alguma semelhança com a démarche de Amalric? É ainda ele quem nota a coincidência de, como Del Giudice, ter 35 anos quando começou a rodar o filme. Um filme, portanto, sobre a angústia da criação, sobre o peso das obras e dos legados, sobre a ténue fronteira entre o embuste e a genuinidade, sobre os confrontos interiores decorrentes de tudo isto?
[]
Mas há também o conto filosófico, de contornos indefinidos - e os trocadilhos com a palavra "estádio", que estão na raiz do enigmático título e se assumem com ironia ao longo do filme, são uma maneira de obscurecer esses contornos.
Luís Miguel Oliveira, Público
Curiosamente, se alguma referência faz sentido evocar a propósito desta história de uma jovem mulher que procura um escritor-que-nunca-escreveu, é de origem italiana: Michelangelo Antonioni. E não tanto porque grande parte da acção decorre na zona de Trieste. Sobretudo porque Amalric parece procurar um tom de deambulação exterior que se transfigura em perplexidade interior, para isso contando com a serena disponibilidade de Jeanne Balibar, intérprete da figura central. O ambíguo sentido paisagístico de A Aventura (1960), por exemplo, vem à memória.
João Lopes
O prazer deste filme está todo no percurso, no ir e vir constantemente relançado que a personagem de Jeanne Balibar faz de e para Trieste, nos encontros casuais que se fazem, nos momentos que se vão guardando.
Antonioni? Certamente. Mas, apesar da referência, não sinto no filme de Mathieu Amalric uma tentativa de fazer à moda de. [] Onde Amalric se porta bem é na construção do improvável ambiente, confortável e aninhado, onde o filme nos convida a instalar-nos por 70 minutos, com a presença felina e esguia de Jeanne Balibar (cuja diletância acho que resulta aqui muito melhor do que em Sabe-se Lá!) a servir-nos de guia.
Jorge Mourinha
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