Promotor
Teatro Nacional D. Maria II
Sinopse
Vivem numa batalha selvagem contra si próprios.
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Como viver quando o abismo da precariedade, da miséria e da desgraça cada dia
mais se abre debaixo dos nossos pés, neste agónico capitalismo em que nos afundamos ?
Em Albergue Nocturno, que escreveu em 1902, peça que abriu a hipótese de um realismo coral, Máximo Gorki descreve um mundo em ruptura com a lei, social e moral, lembra gente que quer sobreviver, inventar um futuro. Submissos ou revoltados, nostálgicos de um passado que se foi, febris, vivem numa batalha selvagem contra si próprios e os outros para se manterem homens. Ou até para fazerem surgir um homem novo.
Como escrevia em Lisboa e um pouco antes (1872) o imenso Gomes Leal:
Eu vejo-a vir ao longe perseguida,
Como dum vento lívido varrida,
Cheia de febre, rota, muito além
() Ela vem triste, só, silenciosa
Tinta de sangue, pálida, orgulhosa
Em farrapos, na fria escuridão...
Buscando o grande dia da batalha.
É ela, é ela, a lívida Canalha!
Eles lá vêm famintos e sombrios
Rotos, selvagens, abanando aos frios,
Sem leito e pão, descalços, semi-nus...
Nada, jamais, sua carreira abranda.
- Fizeram Roma, a Inglaterra e a Holanda,
E andaram com Jesus.
Durante todo o seminário que, entre Março e Maio de 2016, fizemos no Teatro Nacional D. Maria II e que originou o texto Na margem de lá: um lamento, todas as noites vinha para casa ler o Albergue nocturno de Maximo Gorki que já tentara fazer em 2002, nA CAPITAL e cujos ensaios anulámos perante a brutal morte do Paulo Claro, em 4 de Maio.
E foi nascendo esta vontade de pegar neste texto maior, vivê-lo, rever os filmes de Jean Renoir (libérrimo argumento de Zamiatine) e de Kurosawa, fazer uma peça onde, como se pedia naquele texto, se ouvissem
"os dez mil que morreram
Os vinte mil
Os que não chegaram
Os que foram trucidados pelos tanques
Nas estradas do deserto
Mortos de sede, mortos de cansaço
Exaustos.
Os que se perderam no mar
Os que nem chegaram a partir
Os que foram abatidos
Os que se perderam
Queríamos cantar a hora dos que não têm direito
A viver
Na margem de lá.
(Na Margem de Lá um lamento).
Ficha Artística
variações sobre o Albergue Noturno de Máximo Gorki
encenação Jorge Silva Melo
com Vânia Rodrigues, Paula Mora, Rúben Gomes, Hugo Tourita, Figueira Cid, André Loubet, José Neves, Simon Frankel, Ricardo Aibeo, Inês Pereira, Gonçalo Carvalho, João Pedro Mamede, Pedro Baptista, Tiago Matias, Gonçalo Egito, João Estima, Diana Narciso, Rita Delgado, Duarte Melo , Sara Inês Gigante
cenografia e figurinos Rita Lopes Alves
som André Pires
luz Pedro Domingos
fotografias Jorge Gonçalves
produção Artistas Unidos
coprodução TNDM II