Há artistas que carregam o ceptro da intemporalidade, que não deixam apagar a chama olímpica, que resistem à sedução do contemporâneo, esse falso amigo com que todas as obras datadas um dia se envolveram. Marquise soa a Banda, no sentido Rock & Roll do termo, e "Ela Caiu" prova que essa forma de expressão (e de ser) colectiva faz tanto sentido agora como quando surgiu. Marquise não precisou de reinventar a roda para honrar a arte de fazer boas canções - bastou-lhe equilibrar o passado e o presente com minúcia de relojoeiro, dedilhar a sensibilidade pop dos 80s sobre o pára-arranca dos 90s, e pincelar o desconstrutivismo sónico deste século com poesia abstrata.
Apesar de construída com materiais acessíveis, esta Marquise apresenta arrojo arquitectónico na forma como deixa passar a luz natural, que tanto incide nos ombros de Alberto Caeiro como no baixo escavacado aos pés de Krist Novoselic, e ainda pela porta falsa que leva à cave oculta, onde acontecem ocasionais festas góticas.
Ela caiu mas levantou-se, alicerçada em canções orelhudas, refrões antémicos, rock duro e doce como pedra e bolo mármore, guiada por uma voz feminina que tanto derrete mel sobre tarolas marteladas, como debita raiva sobre guitarras melosas. Esta Marquise apanha sol, areja a casa do rock português, limpa as teias mas deixa as aranhas, e de repente, já não cheira a mofo.
"Ela Caiu" é o primeiro álbum de Marquise, sucedendo ao EP homónimo que apresentou a banda portuense em 2023, e é editado pela Saliva Diva. Está disponível em vinil, CD, e nas plataformas digitais.
Horário:
20h30 – Abertura de portas
21h00 – EVAYA (45 min)
22h00 – Marquise (1h25 min)