Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
O underground nova-iorquino, esse movimento subterrâneo que não se esgota, acaba de perder um dos seus gigantes, Ka. Há uns anos, MF DOOM, outro nome maior com ligações fundacionais à cidade, deixava este plano. Super-heróis da rima e do instrumental, mestres em causas diferentes e, acima de tudo, representantes dessa escola que forma e vai à frente sem recurso a artimanhas comerciais, só uma vontade inata de apresentar-nos um ângulo novo a cada manobra. Herdeiro desta forma de estar, MIKE nasceu numa era onde a Internet lhe deu uma capacidade ilimitada de chegar ao seu público e espaço com ferramentas de libertação/validação. E foi isso que lhe permitiu, ainda a sentir o peso da entrada na idade adulta, encontrar muitos devotos com MAY GOD BLESS YOUR HUSTLE (de 2017), um compêndio de reflexões/observações de quem teve de crescer bastante (e cedo) em pouco tempo com mudanças de casa constantes, uma inconstância aliada a depressões desde os 14 anos (altura em que viveu pela primeira vez sozinho). Nesse lugar complicado, entre loops obscuros resgatados a canções de soul e jazz, uma voz única irrompeu para, com técnica e emoção, chamar os holofotes para si. Big Mike!
Já lá vão quase 10 anos de produção criativa e a evolução tem sido uma constante na vida de Michael Bonema, desde a sua discografia a solo (com álbuns superlativos como War in my Pen, weight of the world, Beware of the Monkey ou Burning Desire) e colaborações com a elite não só do rap mais alternativo (Earl Sweatshirt, Wiki, Navy Blue, Danny Brown) como também da vanguarda do r&b e música mais experimental (Liv.e, Klein, Standing On The Corner). Também se aproximou em definitivo de The Alchemist, fazendo um projecto (Faith Is A Rock) com ele e com Patrick Morales e ter participado em trabalhos como Flying High (“Bless”), This Thing Of Ours 2 (“Lossless”) e VOIR DIRE (“Sentry”). Em Pinball, disco saído em 2024, o MC agitou-se noutras ondas e na companhia do produtor Tony Seltzer, que o puxou para cadências de trap, drill e cloud rap e obrigou-o a demonstrar uma desenvoltura diferente ao lado de representantes oficiais dessas outras frequências como Tony Shhnow ou Jay Critch. Ficou-lhe bem, obviamente. Muito recentemente, as conversas sobre um novo longa-duração surgiram à boleia de “Pieces of a Dream”, single produzido pelo próprio e com videoclipe de Ryosuke Tanzawa.
A obra deste “renaissance man” (que, enquanto beatmaker, assina como dj blackpower) vai para lá da criação musical, tendo sido um dos fundadores do colectivo sLUms, do festival Young World e da editora 10k. Sítios, pessoas e comunidades onde se valoriza a arte na sua forma mais crua, honesta e bem feita. Visões suas de um mundo melhor e mais transparente. Enquanto assim for, nada está perdido. Alexandre Ribeiro
Abertura de Portas
21h00
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