Promotor
JESSICA PRATT
Artesã absoluta da canção e exímia na arte do encanto, Jessica Pratt tem vindo a compor uma belíssima e fundamental obra. Sob uma discreta, mas significativa presença, tem sabido gerir um percurso com parcimónia e talento. O encontro com a guitarra aconteceu ainda na adolescência e nos anos vindouros apurou um cunho pessoal que se materializou em 2012, quando editou o seu celebrado álbum homónimo.
Desde logo ecoou um passado perdido de uma folk digna da era pós- Woodstock, ainda em ressaca de sonhos prometidos e a tentar encontrar-se consigo mesma. Remete-nos de uma forma natural e sem conflitos para o intimismo de uma Sibylle Baier e para o imaginário de Vashti Bunyan, mas também para o tom agridoce de Karen Dalton ou a magia panteísta de Linda Perhacs. Um mapa estelar em que Pratt ganhou espaço próprio - e continua a adorná-lo disco após disco.
“Here In the Pitch” é já um dos grandes regressos deste ano, naquele é provavelmente o seu melhor trabalho à data. As trovas banhadas pelo sol dourado da Califórnia ganham aqui um brilho luminoso, de verão tardio e memórias junto à falésia. A doçura psicadélica que atravessa estas canções faz expandir a dimensão da sua voz pela reverberação granular por entre aproximações à retro pop ou à bossa nova. É definitivamente uma outra paragem no universo de Pratt; pela abrangência instrumental que convoca e pela elegância com que combina estes novos elementos. Mais espacial que nunca, parece que estes temas surgem a partir de um estado subconsciente, profundo de símbolos. Algures na contemplação sugerida, nasce uma leve entropia sensorial que, na verdade, só graceja e releva as melodias, as imagens e as impressões deste inesperado renascimento artístico. Um regresso a Lisboa, com banda e sabor a estreia.
LEONOR ARNAUT
Exímia no encontro de novas paisagens, bem como de desafiantes resoluções, é já um dos nomes essenciais da nossa nova música. E essencial pois faz da versatilidade uma força impulsionadora para cruzar linguagens sonoras de modo surpreendente.
Estudante de música desde cedo, Leonor acabou por desembocar na fertilidade do jazz e nas suas expressões mais livres. Reconhece-se um encanto natural pelas texturas telúricas e espaços soniais, mas também a sensibilidade em interpretar canções singulares. Tudo isto flui e faz flutuar num já extenso curso de interligação com outros criadores. Enquanto vocalista dos Fumo Ninja, deu corpo a moldes mais direcionados à pop por caminhos menos óbvios, através do álbum Olhos de Cetim. É maioritariamente nesse ponto de convivência criativa e presença transversal que Leonor Arnaut tem revelado o seu magnetismo. Chega agora ao Vale Perdido numa apresentação em nome próprio, inédita até hoje; um momento-chave para escutar um conjunto de canções que se estreiam assim num contexto de partilha em palco. Avista-se o início de algo maior.