“Canções do Pós-Guerra” foi o título que Samuel Úria escolheu para o seu mais recente disco publicado em 2020. Premonitório? Talvez… dizem que a arte tem essa capacidade, esse recurso de preceder os acontecimentos. Neste caso, esta “guerra” será, como sempre, interior e espiritual. Uma vez mais, Samuel Úria obriga-nos a olhar para dentro. Não num exercício egocêntrico, mas antes como parte de um caminho de necessária partilha.
Efetivamente, o repertório deste novo trabalho, de onde se destacam até à data “Fica Aquém”, “O Muro” ou “Aos Pós”, foi composto e gravado em período pré-pandemia. Aliás, o disco teve data de edição coincidente com o confinamento e só a impossibilidade de ter a atenção do público levou ao seu adiamento. E por muito que se apregoe que este “Canções do Pós-Guerra” é o disco mais confessional de Samuel Úria, tal como em registos anteriores, ou ainda mais, as suas composições confrontam-nos connosco próprios, algo que só as “canções eternas” têm a capacidade de provocar.
Mas este concerto, ainda que marcado por “Canções do Pós-Guerra”, tem ainda o propósito de conduzir o público numa viagem à criatividade de Samuel Úria, num percurso que terá um pé nos seus trabalhos anteriores e em que terão óbvio destaque temas que fazem do “trovador das patilhas” no mais interessante cantautor do século XXI – “Lenço Enxuto”, “É preciso que eu diminua”, “Fusão” ou “Teimoso”. E, se esperam que a jornada seja tranquila, desenganem-se, o conforto dos vossos lugares vai ser frequentemente assaltado pela energia explosiva com que Samuel desequilibra (ou, deveríamos dizer, equilibra) os momentos de intimidade. |