Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Boris
Autoridade absoluta na matéria do psicadelismo em solo nipónico, o power trio de Tóquio regressa a este país com a bagagem de 30 anos de actividade ininterrupta. Galgando quaisquer fronteiras impostas às possibilidades do rock, a banda formada por Atsuo, Takeshi e Wata continua brava e incansável, na estrada e num incontável número de edições por editoras como a Southern Lord, Hydra Head, Third Man ou a Fangs Anal Satan de Atsuo, a projectar uma óptica panorâmica sobre formas, linguagens e meios tanto para a elevação como para o sufoco. Dos seus inícios cravados no sludge e no drone mais estrepitoso, de Absolutego e consequentes investidas electrificadas em discos com títulos tão auto-explicativos como Amplifier Worship ou Dronevil foram marcando terreno em passadas de volume, distorção e gritaria do fundo do poço pelas vozes dos três membros. Metaleiros em headtrip, headbanging como meditação. Num mesmo fôlego resgatam as entranhas e espírito do proto-heavy metal dos anos 70 e do garage mais alucinado da década anterior para lhes dar nova vida, postulada no primeiro Heavy Rocks de 2002 ou Akuma No Uta de 2005, num esforço consciente e auto-referencial de açambarcar toda a música que percorre as mentes e corpos.
Essa mesma voracidade e ânsia exploratória fica bem patenteada no elenco de colaborações que foram tendo ao longo dos anos: dos vários discos com Merzbow, a Altar com Sunn O))) em alinhamento cósmico, de Keiji Haino ao surpreendente encontro com Ian Astbury - única banda capaz de juntar o rei do noise e o vocalista dos Cult numa mesma entrada de Discogs. Pink, atirado para o mundo em geral em 2006, expandiu o seu universo de ouvintes e trouxe para o seio da banda uma beleza e contemplação até então apenas sugestionada, ecoando memórias do shoegaze, e pelo caminho aterrando na banda sonora de Limits of Control de Jim Jarmusch e recolhendo espanto de todas as frentes. Daí, nada mais restava senão arrepiar caminho escancarando portas que se abrem do doom cavernoso à dimensão etérea da dream pop, da improvisação extática à contenção do drone, dos tiques do hard rock à velocidade e abandono no punk, tudo muito documentado, como nos vários registos ao vivo que vão aparecendo na Fangs Anal Satan. Uma actividade de recolha com tanto em comum com a devoção aos Grateful Dead como da inquietude do free jazz.
Fora dessas contas, e excluíndo os esforços do terceiro Heavy Rocks e do regresso aos pântanos drone mais densos de Fade, NO de 2020 e W de 2022 têm lugar de destaque nessa imensa discografia. Por si só um feito, tendo em conta tudo o que está para trás. Álbuns complementares, tanto NO como W surgem como resposta possível da banda à pandemia e aos seus contínuos efeitos. O primeiro é como que um rugido, um grito primordial face ao isolamento e ao torpor confuso desses tempos, operando com os instintos mais punk e libertários da banda, enquanto que W, seu primeiro álbum para a Sacred Bones, se espraia por ambiências mais plácidas, onde a voz beatífica de Wata assume um papel central por entre neblinas de ruído, camadas de guitarra contemplativas e ritmos dolentes, onde a luz vai sendo, ainda assim, contaminada por alguma sombra. Ainda não estamos a safo. Como sintetizou tão bem Takeshi numa entrevista em 2020: "The World will keep changing. Like a reflecting mirror, Boris will keep evolving.". Cá estaremos. BS
Abertura de Portas
21h00