Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Ana Roxanne
Num constante e complexo diálogo entre a vivência pessoal e o objecto artístico, o percurso de Roxanne tem sido assinalável. Com apenas dois discos, ingressou nos catálogos de importantes editoras como a Leaving Records e a Kranky - e nem escapou ao radar de Thom Yorke. Entre as memórias distantes do impacto do R&B, as lições na escola de jazz e uma viagem transformadora à Índia, a artista norte-americana chegou a uma linguagem própria. Paira algo de sagrado por aqui, entre os madrigais antigos e aquela chama cósmica de Alice Coltrane, sem esquecer a hipnose noturna de Grouper. O carácter lenitivo das suas criações apela a um lado sensorial, como se de uma escuta activa se tratasse.
Gravado em 2015 e lançado dois anos depois, ~~~ foi o título enigmático que nos apresentou à sua música. A ondulação visual sugerida é desde logo efectiva; essa ideia de movimentação natural, de quem vai tacteando caminho na penumbra para alcançar a luz. Roxanne usa estes ambientes vívidos em que a estática, o ruído externo (voluntário ou não) e, obviamente, a composição de estes e outros elementos, sejam tela de questões maiores. Because Of a Flower sucedeu-se a auspiciosa estreia, trazendo consigo problemáticas humanas sobre os conceitos, tabus e lutas em redor de uma identidade sexualidade além do convencional. O disco abre com as palavras do poeta Lao-tzu, luminária ancestral da cultural asiática, recitadas pela própria. Amplifica-se assim, entre história e filosofia, a inquietude dos que buscam liberdade à normativa. Because Of a Flower é obra que não responde propriamente a questão alguma, mas que traz à superfície essa profundidade às vezes tão impenetrável. Álbum confessional, sim, mas dificilmente solitário.
Ana Roxanne, um dos nomes que pareciam num palco nacional. A aguardada estreia é agora, num concerto que se antevê revelatório de uma artista em franca ascensão. NA
Giovanni Di Domenico
Pianista, performer e compositor cuja discografia remonta ao final da década passada e que se abre por entre o jazz, a improvisação livre, minimalismo, drone e demais matéria que habita nas fendas entre géneros e que tem servido de bússola para a sua editora Silent Water e encontros com gente como Jim O’Rourke, Tetuzi Akyiama, Tatsuhisa Yamamoto ou Manuel Mota.