Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Kara Jackson
Um convite. Coloque “Why Does The Earth Give Us People To Love?” a tocar e feche os olhos, abstraia-se da ideia de que música está a tocar e concentre-se por momentos na voz de Kara Jackson. A sensação de que a singer-songwriter está próxima é vertiginosa, mas outra coisa saltará à vista, o registo vocal, algures entre o spoken word e a disposição de quem está a actuar num especial de comédia. Esta última nasce de uma combinação entre o registo de Kara e a escrita, fluída com o à-vontade da oralidade, desrespeitando convenções da canção ou até de expectativas do que é e para onde ir. Por partes, isto quer dizer que Kara Jackson é engraçada?
Bom, é. Mas o humor faz parte, é um escape, uma insegurança que se manifesta com imprevisibilidade neste formato de singer-songwriter. O humor também pode ser algo confessional - ou falsamente confessional, para desviar as atenções - e a beleza do primeiro longa-duração de Kara, editado no ano passado, é essa: existe entre as nossas expectativas do que achamos que deve ser a sua música e aquilo que realmente é. Por exemplo, “pawnshop” convida a que se pense imediatamente em Joni Mitchell: homenagem, influência? Talvez outra coisa, como o blues de Kara Jackson está a milhas daquilo que consideramos blues. Há aqui um outro caminho, o passar do tempo, a visita ao género pela via da mudança. Mas a mudança ignora o tributo, o respeito, trilha o seu próprio caminho. Se há algo a tirar de Kara Jackson, pouco mais de vinte anos, natural de Chicago, é que está aqui para mudar qualquer coisa. Como Angel Bat Dawid, Circuit Des Yeux e Julia Holter estiveram noutros momentos, com as devidas distâncias e motivações. O que está a fazer agora é excepcional, entre a verdade e a mentira, a ilusão e a confissão e, sobretudo, a real vontade de alarmar para a necessidade de se viver a música do presente com as regras da música do presente. Este é o novo blues. AS
Abertura de Portas
18h30